segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O sábado parte 1: a hermenêutica e o sábado



O sábado é um dia de descanso dado pelo próprio Deus a humanidade ainda na criação (Gn 2:3), mas será que sua guarda é válida ainda hoje? Ou será que cristo aboliu a sua guarda na cruz? A resposta a estas perguntas teremos neste estudo.

A hermenêutica e o sábado

 

            A guarda do dia de sábado tem sido muito debatida no meio cristão, alguns afirmam que o sábado foi trocado pelo domingo através da ressurreição de Cristo, outros dizem que estamos na nova aliança e o tempo da lei já passou estando todos nós agora no tempo da graça, enquanto outros afirmam que a guarda do sábado é um princípio eterno estando em vigor nos dias atuais. Todas estas teorias são justificadas utilizando muitas vezes o mesmo texto como é o caso de Mt 5:17 que diz: “Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas; não vim revogar, mas cumprir”. Alguns dizem que como Cristo cumpriu a lei não estamos mais obrigados a cumprir a lei, outros dizem que como Cristo cumpriu a lei devemos hoje também cumprir, pois ele não a aboliu.
            A grande questão nestas teorias está no método de interpretação do texto bíblico que afeta diretamente o sentido do texto. Os modelos de interpretação (hermenêutica) mais utilizados são: dispensacionalismo, alegórico, critico-histórico e gramatico-histórico.

Dispensacionalismo: Este método divide a bíblia em várias fases que são as “formas” como Deus se relaciona com a humanidade através da história. Para este tipo de hermenêutica o tempo da Lei já passou e estamos agora no tempo da Graça, portanto não somos mais obrigados a guardar a lei a não ser o que estiver expressamente apresentado no Novo Testamento.
Alegórico: O método alegórico defende que os textos bíblicos referentes a guarda do sábado, por ocasião da ressurreição de Cristo, devem ser relidos alegoricamente de modo que eles agora passam a comprovar a guarda do domingo.
Crítico-histórico: Este método reduz o texto bíblico como mero produto do meio, neste caso a guarda do sábado não passa de um antigo costume babilônico ou canaanita que foi incorporado as crenças hebraicas não sendo mais pertinente para os cristãos modernos.
Gramatico-histórico: O método gramatico-histórico baseia-se na bíblia como sua própria interprete e utiliza os estudos da “critica Textual” e da história para definir a correta interpretação do texto. Neste método o sábado ainda vigora para os dias de hoje, pois não há nada na bíblia que prove que ele foi abolido após a ressureição de Cristo.
            Diante destes métodos utilizados nos vem uma pergunta: qual deles devemos utilizar? Este estudo tem como objetivo mostrar a bíblia como ela é e deixar que ela mesma se explique, cabendo ao leitor no final deste estudo escolher qual destes métodos ele irá utilizar.

As alianças


Existem muitas discussões em ralação a guarda ou não do sábado com base na nova aliança, mas o qual é a nova aliança? E qual é a velha? Qual a importância dela para a salvação? Vamos fazer uma pequena abordagem sobre esse tema agora.
O termo “aliança” é utilizado como tipo de acordo de Deus para com seu povo. O termo é tão forte que dividiu a bíblia em Antigo Testamento (antiga aliança) e Novo Testamento (nova aliança).
Deus fez várias alianças, que compõem uma única aliança básica de salvação, com o seu povo que foram feitas com o intuito de reafirmar o proposito salvador dEle, reafirmando-a de diversas maneiras a fim de atender as necessidades do seu povo em diferentes épocas e ambientes. Cada forma de aliança desempenha sua parte no proposito unitário da salvação.
Entre as várias formas de alianças que Deus fez com o seu povo estão:
Adâmica:  Designa a promessa de Deus em Gênesis 3:15, chamada de protoevangelho (primeiro anuncio do evangelho), segundo o qual Cristo, o Descendente, venceria o maligno (Rm 16:20).
Noética: Onde Deus promete preservar a vida das criaturas da Terra (Gn 6:18-20; 9:9-11).
Abraâmica: A aliança no qual Deus promete que Abraão seria pai de uma grande nação e toda a terra de Canaã seria de seus descendentes, esta aliança tem como sinal a circuncisão (Gn12:1-3; 15:1-5; 17: 1-14; Gl 3:6-9, 15-18; Gn 17:11)
Sinaítica: Celebrada no contexto da redenção do cativeiro egípcio (Ex 19:4; 20:2; Dt 1-3), continha as providencias sacrificais divinas para a expiação e o perdão de pecado.
Davidíca: Nesta aliança Deus promete que Davi seria príncipe e rei sobre Israel (Ez 37: 24-27, IISm 7:22; Jr 30:9; Ez 37:24,25)
Sendo todas elas consideradas eternas (Gn 9:16; 17:7,13,19; ICr 16:17; Sl 105:10), pois fazem parte da grande aliança de Deus para salvação do seu povo. Tendo em vista todas estas alianças, podermos ver agora o ponto chave das discussões em relação a guarda do sábado que é a antiga e nova aliança.
Nova aliança: A promessa da nova aliança ocorre pela primeira vez em Jeremias 31:31-33. Ela está inserida no contexto da volta de Israel do exilio e das bênçãos que Deus concederia. Assim como a quebra da aliança no Sinai (v.32) levou Israel para o exílio, a renovação dessa aliança os preservaria a constituiria sua esperança para o futuro. O conteúdo dessa nova aliança era a mesma do Sinai. Havia mesmo relacionamento Deus-povo e a mesma lei (v. 33). A aliança sinaítica não se tornara antiquada nem prescrevera; fora apenas quebrada. A reconstituição dessa aliança seria estabelecida como premissa para o perdão dos pecados do povo (v.34) e a garantia de que Deus colocaria a Sua lei pactual (e a reverencia por ele, Jr 32:40) no coração de seu povo (Jr 31:33). Em Ezequiel 36: 25-28, a internalização ocorre quando Deus renova o coração e põe seu Espirito nele com força motivadora para uma nova obediência.
Em harmonia com a ênfase no perdão (Jr 31:24) e no Espirito (Ez 36:37), o Novo testamento estende o conceito da nova aliança para o sangue de Cristo, que traz o perdão de pecados (Mt 26:28; Lc 22:20; Ico 11:25; Hb 9:15; 12:24); e para o ministério do espirito, que traz vida.
Antiga aliança: O conceito de uma “antiga aliança” é explicitamente referido somente em II Coríntios 3:14, embora esteja implícito no uso que Paulo faz de “duas alianças em Gálatas 4:24.
As afirmações de Paulo sobre as alianças em II Coríntios e Gálatas só pode ser devidamente compreendida em função da polemica que ele desencadeou contra os oponentes judaizantes, que, segundo ele estavam dando mais importância à lei do que a Cristo. Dentro desse contexto polemico, a antiga aliança mencionada em II Coríntios 3:14 representa o código mosaico no Sinai (v.15) que, quando lido é lido não cristologicamente, não passa de mera letra.
Quanto a Gálatas, é evidente a ênfase na observância à lei nunca deve ser dissociada da primazia de um relacionamento de fé com Deus. Quando isso ocorre, a lei não alcança seu objetivo de levar à vida (conforme se compreendia orginalmente Dt 6:24; Rm7:10). Ao contrario leva a condenação (Gl 3:10; Dt 27:26).

A aliança superior: A razão de uma segunda ou superior aliança para os hebreus é que Deus considerou a antiga aliança como uma defeituosas promessas do povo no Sinai, pois eles falharam em sua execução (Hb 8:8,9). Havia necessidade de promessa superior (v. 60), E Hebreus explica essa promessa em termos das novas promessas pactuais de Jeremias 31:33, em que Deus reafirma a aliança do Sinai e promete capacitar os crentes a guardá-la.

Desta forma podemos perceber que a antiga aliança não foi invalidada por Deus, mas quebrada pelos judeus que “forçou” a Deus a refazer a aliança que seria a nova aliança, no qual Deus reafirmou a antiga aliança e não mais escreveria sua lei em pedra, mas no coração do seu povo. Sendo assim a nova aliança não anula a lei no novo testamento, ela reafirma-a através do sangue do cordeiro que é Jesus Cristo.

Referencias

Tratado de teologia adventista
O sábado na bíblia 


quinta-feira, 20 de agosto de 2015

CARACTERÍSTICAS DA CANONICIDADE



            A palavra cânon deriva do grego Kanon (“cana, régua”), que, por sua vez, se origina do hebraico kaneh, palavra do Antigo Testamento que significa “vara ou cana de medir” (Ez 40:3). O novo testamento emprega o termo em sentido figurado, referindo-se a um padrão ou regra de conduta (Gl 6:16).

Emprego da palavra “cânon” pelos cristãos da igreja primitiva

 

            Nos primórdios do cristianismo, a palavra cânon significava “regra” de fé, ou escritos normativos (as Escrituras autorizadas). Por volta de 350 d.C., o conceito de cânon bíblico ou de Escrituras normativas já estava em desenvolvimento. A palavra cânon aplicava-se à Bíblia tanto no sentido ativo (a bíblia é a regra pelo qual tudo o mais deve ser julgado) como no sentido passivo (a Bíblia é a regra pelo qual todos os escritos devem ser julgados como inspirados).

Sinônimos de canonicidade

 

            A existência de um cânon ou coleção de escritos autorizados antecede o uso do termo Cânon. A comunidade judaica coligiu e preservou as escrituras sagradas desde o tempo de Moises. Vamos conferir agora alguns dos seus sinônimos.

Escrituras sagradas: Um dos conceitos mais antigos de cânon foi o de escritos sagrados. O fato dos escritos de Moises serem considerados sagrados demonstra-se pelo lugar santo em que foram guardados, ao lado da arca da aliança (Dt 31:24-26). A consideração especial dada a esses livros especiais mostra que eram tidos como canônicos, ou sagrados.
Livros autorizados: A canonicidade das Escrituras é designada pela autoridade divina. Visto que esses livros vieram da parte de Deus, vieram revestidos de sua autoridade. Sendo escritos dotados de autoridade, eram canônicos, normativos, para o crente israelita.
Livros que conspurcam as mãos: Para a tradição Judaica, os livros do Antigo Testamento hebraico, na verdade, tornavam imundas as mãos, porque são santos. Por isso o leitor teria que passar por um ritual de purificação.
Livros Proféticos: Um livro só era considerado inspirado se escrito por um profeta, ou porta-voz de Deus. De fato, segundo Flavio Josefo (contra Ápion,I,8), só os livros que haviam sido redigidos durante o período profético, de Moises até o rei Artaxerxes, poderiam ser considerados canônicos. Foram considerados canônicos os livros de Moises a Malaquias, pois só esses foram escritos por homens em sucessão profética, depois disso não houveram livros inspirados.

A canonicidade é determinada pela inspiração

 

Os livros da Bíblia não são considerados oriundos de Deus por se haver descoberto neles algum valor; são valiosos porque provieram de Deus – fonte de todo bem. O processo mediante o qual Deus nos concede sua revelação chama-se inspiração. É a inspiração de Deus num livro que determina sua canonicidade.

A descoberta da canonicidade

 

            O povo de Deus tem desempenhado um papel de cabal importância no processo de canonização, ao longo dos séculos, ainda que tal papel não tenha natureza determinadora. A comunidade de crentes arca com a tarefa de chegar a uma conclusão sobre quais livros são realmente de Deus. A fim de cumprir esse papel, a igreja deve procurar certas características próprias da autoridade divina.

Os princípios de descoberta da canonicidade

 

            Nunca deixaram de existir falsos livros e mensagens. Por representarem ameaça constante, fez-se necessário que o povo de Deus revesse cuidadosamente sua coleção de livros sagrados. São discerníveis cinco critérios básicos, presentes no processo como um todo:
1)                      A autoridade de um livro: Cada livro da Bíblia era traz uma reivindicação de autoridade divina. Com frequência a expressão categórica “assim diz o Senhor” está presente. As vezes o tom e as exortações revelam sua origem divina. Se faltasse a um livro a autoridade de Deus, esse era considerado não canônico, não sendo incluído no cânon sagrado.
2)                      A autoria profética de um livro: Os livros proféticos só foram produzidos pela atuação do espirito, que moveu alguns homens conhecidos como profetas (II Pe 1:20,21). Todos os autores eram profetas ou exerciam a função de profetas ainda que não fossem profetas por ocupação.
Paulo exorta o povo de Deus em Gálatas, dizendo que suas cartas deveriam ser aceitas porque ele era aposto de Cristo, ou seja, a mensagem não vinha dele, mas de cristo. (Gl 1:1). Todos os livros deveriam ser rejeitados caso não proviessem de profetas nomeados por Deus; essa era a advertência de Paulo (II Ts 2:2). Foi por esse motivo que a segunda carta de Pedro quase não entrava no cânon. Enquanto os pais da igreja não ficaram convencidos que esta carta não tinha sido forjada, mas vieram do próprio aposto ela não entrou no cânon.
3)                      A confiabilidade de um livro: Outro sinal característico da inspiração é de que o livro deve ser digno de confiança. Todo e qualquer livro que contenha erros factuais ou doutrinários não pode ter sido inspirado por Deus. Deus não pode mentir; as palavras do Senhor só podem ser verdadeiras e coerentes. Com isso se um livro contrariar uma inspiração anterior seria considerado como não inspirado.
Alguns livros canônicos foram questionados com base nesse mesmo princípio. Poderia a carta de Tiago ser inspirada, se contradissesse o ensino de Paulo a respeito da justificação pela fé e nunca pelas obras? Até que fosse comprovada que não existe contradição, mas complementação entre os textos, a inspiração deste livro foi questionada.
4)                      A natureza dinâmica do livro: O quarto teste de canonicidade, às vezes menos explícito do que alguns dos demais, era a capacidade do texto de transformar vidas: “... a palavra é viva e eficaz” (Hb 4:12). O resultado é que ela pode ser usada “ para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir na justiça” (II Tm 3:16,17). Alguns livros que foram rejeitados, apresentavam falsas esperanças ou faziam rugir alarmes falsos. Assim, não produziam no crente o crescimento na verdade de Jesus Cristo.
Alguns livros da Bíblia, como Cântico dos cânticos e Eclesiastes, foram questionados, pois alguns estudiosos julgaram isentos desse poder dinâmico, capaz de edificar o crente. Desde de que reconheceram que o livro de Cântico dos cânticos não era sensual, mas profundamente espiritual e Eclesiastes não é um livro cético e pessimista, mas positivo e edificante, pouca dúvida restou acerca de sua canonicidade.
5)                       A aceitação de um livro: A marca final de um documento escrito autorizado é seu reconhecimento pelo povo de Deus ao qual originalmente se havia destinado. A palavra de Deus dada mediante seus profetas e contendo sua verdade, deve ser reconhecida pelo seu povo. Caso algum livro fosse recebido, colecionados e usado como obra de Deus, pelas pessoas a quem originalmente se havia destinado, ficava comprovada a sua canonicidade.
Só livros de Moises foram aceitos imediatamente pelo povo de Deus. Foram colecionados, citados, preservados e até mesmo impostos sobre as novas gerações. Esse princípio de aceitação levou a alguns a questionar durante algum tempo certos livros da Bíblia, como II e III João. São de natureza particular e de circulação restrita; é compreensível, pois, que houvesse alguma relutância em aceita-los, até que essas pessoas em dúvida tivessem absoluta certeza de que tais livros haviam sido recebidos pelo povo de Deus do Século I como cartas do apostolo João.
O papel do povo de Deus era decisivo no reconhecimento da palavra de Deus. O próprio Deus havia determinado a autoridade que envolvia os livros do cânon que ele inspirara, mas o povo de Deus também havia sido chamado para essa tarefa: descobrir quais eram os livros dotados de autoridade, e quais eram falsos.

Procedimento para a descoberta da canonicidade

 

            Alguns princípios estão apenas implícitos no processo: Às vezes acontecia que o poder e autoridade de um livro eram mais visíveis do que sua autoria (Hebreus). De qualquer maneira, todas as cincos características estavam presentes na descoberta e na determinação de cada livro canônico, ainda que alguns desses princípios só fossem aplicados de modo implícito.  
             Alguns princípios atuavam de modo negativo no processo. O princípio da confiabilidade eliminava mais depressa os livros não canônicos, não sendo a mesma rapidez para indicar os canônicos. Não existem ensinos falsos que, apesar disso, sejam canônicos; no entanto, há muitos apócrifos que expõem a verdade sem jamais terem sido inspirados. De modo semelhante, muitos livros edificam ou apresentam dinâmica espiritual positiva não são canônicos, embora nenhum livro canônico deixe de ter importância no plano salvifico de Deus.
            O princípio realmente essencial substitui todos os demais princípios. Se um livro houver sido escrito por um profeta prestigiado e honrado de Deus, e se ele afirmar que apresentará uma enunciação autorizada da parte de Deus, nem há necessidade de formular as demais perguntas, pois nenhum livro concedido por Deus pode ser falso.

Conclusão


Neste estudo vimos a definição de cânon, e os princípios que ajudaram os Judeus e os Cristãos a encontrar os livros inspirados. Desta forma percebemos que cânon bíblico não foi mera obra do acaso, mais Deus guiou o seu povo na descoberta dos livros por Ele inspirado. Cabe agora nós hoje nos aprofundar nos estudos dos livros que Deus nos mostrou para assim conhecermos um pouco do santo caráter Divino.

Referencias


Norman Geisler e William Nix, Introdução Bíblica: como a bíblia chegou até nós, 1ª edição, Editora Vida, são Paulo, 2006.


terça-feira, 18 de agosto de 2015

O CARÁTER DA BÍBLIA


A bíblia é um livro singular. Trata-se de um dos livros mais antigos do mundo e, no entanto, ainda é o best-seller mundial por excelência. Foi escrita no mundo oriental antigo; moldou, porém, o mundo ocidental moderno. É o livro mais traduzido, mais citado, mais publicado e que mais influência em toda a história.
Afinal, o que é que constitui esse caráter inusitado da bíblia? Como foi que ela se originou? Quando e como assumiu sua forma atual? São essas as perguntas que serão respondidas neste estudo.

A Estrutura Da Bíblia


            A palavra bíblia (livro) entrou para as línguas modernas por intermédio do francês, passando primeiro pelo latim biblia, com origem do grego biblos. Originalmente era o nome que se dava à casca de um papiro do século XI a.C. Por volta do II d.C., os cristãos usavam a palavra para designar seus escritos sagrados.

Os Dois Testamentos da Bíblia

 

            A bíblia compõe-se de duas partes principais: O Antigo e o Novo Testamento. O Antigo Testamento foi escrito pela comunidade judaica, e por ela preservado por mais de um milênio antes da era de Jesus. O novo testamento foi composto pelos discípulos de Cristo ao longo do século I d.C.
            A palavra Testamento, que seria mais bem traduzida por “aliança”, é tradução de palavras hebraicas e gregas que significam “pacto” ou “acordo” celebrado entre partes (“aliança”). Portanto, no caso da bíblia, temos um contrato antigo, celebrado entre Deus e seu povo, os Judeus, e o Pacto novo, celebrando entre Deus e os Cristãos.
            Estudiosos da bíblia perceberam que existe uma unidade entre os testamentos e chegaram à conclusão de que “o Novo Testamento está oculto no Antigo Testamento”. Assim, Cristo se esconde no Antigo Testamento e é desvendado no Novo.

As secções da bíblia

 

            A bíblia pode ser dividida em oito secções, quatro do Antigo Testamento e quatro do Novo Testamento.



            A divisão do Antigo Testamento em quatro secções baseia-se na disposição dos livros por tópicos, com origem na tradução das Escrituras Sagradas para o grego. Essa, tradução conhecida como a versão dos septuaginta (LXX), iniciara-se no século II a.C. A bíblia hebraica não seguia essa divisão tópica dos livros, em quatro partes.  Antes, empregava-se uma divisão de três que era:
Lei/Tora: Os escritos de Moises.
Os profetas/ Nebhiim: Livros de quem desempenhou o serviço de profeta.
Os escritos/ Kethunbhim): Profetas não oficiais.




  Justifica-se a divisão em três partes através da história judaica sendo provavelmente o relato mais antigo desta divisão no prologo do livro Siraque, ou eclesiástico, durante o século II a.C. podendo também ser encontrado no Mishna (ensino) e por Flavio Josefo, o primeiro historiador Judeu. No novo testamento pode perceber esta divisão, desta vez citada por Cristo, como Lei, profetas e salmos (Lc 24:44).
A bíblia também pode ser dividida em de forma cristocêntrica, pois Cristo por cinco vezes anunciou que Ele era o tema central do Antigo Testamento (Mt 5:17; Lc 24:27; Jo 5:39; Hb 10:7).




Capítulos e versículos da bíblia


  As bíblias mais antigas não eram divididas em capítulos e versículos. Essas divisões foram feitas para facilitar a tarefa de citar as Escrituras. Stephen Langton, professor da Universidade de Paris e mais tarde arcebispo da Cantuária, dividiu a Bíblia em capítulos em 1227. Os massoretas, no entanto, dividiram o Antigo Testamento em versículos  e no ano de 1551  Robert Stephanus, impressor parisiense, apresentou a divisão do Novo Testamento.

Conclusão:


          A bíblia é o livro mais lido mundo, no qual é dividido em antiga e nova aliança que são os testamentos e em capitulo e versículo, sendo estas divisões posteriores, contudo, mesmo com estas divisões ela não perdeu sua unicidade. Os livros da bíblia foram organizados de acordo com seu caráter literário, atualmente os livros estão organizados em 8 partes, 4 delas no Antigo e 4 no Novo Testamento, não devemos perder de vista que, acima de tudo, a mensagem central da bíblia é Cristo.

Referencias:

Norman Geisler e William Nix, Introdução Bíblica: como a bíblia chegou até nós, 1ª edição, Editora Vida, são Paulo, 2006.
Tratado de Teologia Adventista

terça-feira, 11 de agosto de 2015

COMO GARANTIR SUCESSO SEM SAIR DE CASA


Marcelo Augusto de Carvalho

Êxodo 20.12: “Honra teu pai e tua mãe”.

§  Este mandamento apela à proteção a velhice.
§  É de suma importância atual, pois hoje em dia, no Brasil, o uso de anticoncepcionais e o aumento da vida média do brasileiro fazem com que haja uma porcentagem cada vez maior de idosos.
§  De 1940 a 1980 a faixa dos idosos (acima de 60 anos) cresceu mais do que a população jovem.
§  Em 1960 os idosos representavam 4,7% da população brasileira. Na virada do milênio esse índice chegará a 15%.
§  Diante desta realidade, o que vemos hoje? O desrespeito para com os idosos, expresso nas:
1.    Filas para atendimento médico, bancário e de qualquer outra espécie que esta classe precise;
2.    Nos trânsito de carros, nas passarelas e calçadas para pedestres;
3.    E acima de tudo nos maus tratos que ainda ocorrem com certa freqüência nos lares; muitos filhos não suportam as deficiências de seus velhos pais, e acabam maltratando a quem lhes deu toda uma vida;
4.    Nos asilos. Simplesmente 200 mil brasileiros, acima de 65 anos vivem em 4 mil asilos por todo o país. Desses,  10% não têm família e 20% entraram por conta própria. As razões para este confinamento são a falta de espaço na casa dos filhos e falta de tempo. Muitos se queixam de solidão e falta de visitas dos familiares.
O QUE ESTAMOS FAZENDO COM OS NOSSOS IDOSOS?

ABRANGÊNCIA
Deus pede reverência, obediência e reconhecimento a todos os nossos pais:
1.            Pais naturais;
2.            Pais de criação;
3.            Pais educacionais (professores, preceptores, aqueles que militaram por nossa educação)
4.            Pais espirituais (pastores, anciãos de nossa igreja, e todos aqueles que lutaram por conservar nossa vida espiritual. EX- o dia do pastor).
5.            Pais anciãos (os idosos em geral. Por serem mais velhos que nós, já contribuíram, me muito, mesmo de forma indireta para a sociedade onde vivemos. EX- os impostos que pagaram, as leis pelas quais lutaram que fazem nossa vida bem melhor hoje, etc.)
6.            Pais políticos (os magistrados- juízes, prefeitos, deputados, senadores, presidentes etc).

A QUEM SE DIRIGE O MANDAMENTO?
- A todos os filhos, naturais, espirituais ou de que forma o sejam.
- Muitas vezes pensamos que este mandamento se aplica apenas às crianças, e que nós adultos já passamos por sua validade. Mas ele se dirige especialmente aos filhos adultos. Leia Êxo. 21. 15, Lev. 20.9; 27.7; Prov. 19.26; 20.20 e Mal. 1.6; 4.4-6.

COMO OBSERVAR ESTE MANDAMENTO?

Aos Pais Naturais.
1)    Os filhos devem obedecer seus pais nos sábios e amorosos conselhos que recebem deles. Isto não significa que Deus pede-lhes que sigam cegamente as instruções dos pais, ou que percam sua individualidade ou direito de escolha. Não. Deus apenas espera que confiemos no amor que nossos pais possuem por nós, e o demonstrarão através de seu cuidado para com nossa vida. E que apenas escutemos seus conselhos, pesemos se são realmente sábios, e escolhamos então o caminho a seguir. ( Deus já sabia que os filhos teriam tanta aversão aos conselhos dos pais que nem parariam para escutá-los).
2)    Reverenciar os pais significa tratá-los com amor, carinho, compreensão e jamais com leviandade, desprezo, ou da forma como tratamos nossos amigos. Eles merecem lugar de honra máxima em nosso conceito e trato. Nossas melhores palavras devem ser dirigidas a eles, e não à infames colegas. Reverenciar é respeitar, em todos os sentidos. É tratá-los bem apesar de seus defeitos, perdoá-los quando são tão equivocados em nossa educação, é conduzir-se de maneira digna para com eles na frente de outras pessoas, é ajudá-los a vencerem seus defeitos pela compreensão e pela espera de que um dia eles reconhecerão seus erros e se converterão. No AT Deus mostra claramente que não devemos desprezar os pais (Pro. 23.22; 30.17; Miq. 7.6) nem zombar deles (Prov. 30.17) e nem sequer feri-los ou amaldiçoá-los (Êxo. 21.15,17). Se alguém assim procedesse poderia ser condenado à morte.
3)    Reconhecimento é agradecer por tudo o que fizeram por nós. Talvez tenham falhado em muitos pontos. Há muita mágoa e tristeza em nosso coração quando analisamos o que nossos pais fizeram de mau ou deixaram de fazer para nosso bem. Mas apesar de tudo, enxergamos que fizeram seu melhor por nós. Aí cabe uma carta de agradecimento, palavras neste tom num aniversário ou no dia dos pais, uma ajuda financeira quando precisam, um presente pessoal ou doméstico (máquina de lavar, barbeador, jogo de pratos). Você alguma vez agradeceu a seus pais por tudo que fizeram?
4)    Os filhos adultos têm a responsabilidade de sustentar seus pais quando necessário.
5)    Dar atenção, comunhão, conforto, orientação e cuidado em momentos de necessidade (doenças, problemas de velhice, cansaço, preocupações, depressões). Muitos pais são explorados, humilhados colocados de lado ou até deixados no isolamento dos asilos e penssionatos pelos filhos. E há também muitos casos de filhos que internam os pais, leva-os a assinarem para que recebam a aposentadoria, e somem, deixando os pais morrendo às minguas.

Aos Pais Espirituais.
1.    Os cristão fazem parte da família de Deus. Estão unidos espiritualmente. Por isto chamam-se de irmãos e irmãs.
2.    Jesus ordenou que assim o fosse em virtude de muitos deixarem tudo por amor à Ele- casa, irmãos, irmãs, pais ou filhos, ou campos. Mas Ele prometeu a essses fiéis que receberiam muitas vezes mais, aqui e no Céu. Mat. 19.29. Marcos diz que receberá já no presente o cêntuplo de tudo o que deixou para seguir o mestre. Marc. 10.30.
3.    Precisamos dar todo apoio aos novos conversos.
4.    Precisamos respeitar, obedecer e amar também todos aqueles que labutaram por nossa conversão, como também continuam cuidando de nossa fé (pastores, anciãos, irmãos da comunidade cristã, etc).
5.    Paulo mostrou que a igreja deve cuidar e proteger as viúvas. I Tim. 5.4-8.

À Igreja.
1.    Muitos afirmam que não podem obedecer às orientações de sua igreja local pois seus líderes estão totalmente corrompidos. São políticos, ou mesmo contemporizam com o pecado.
2.    Precisamos nos conscientizar que não existe uma igreja pura e perfeita neste mundo. A igreja humana será sempre um corpo heterogêneo, até Deus julgar os desígnios dos homens e separar os justos dos ímpios. Isto não nos dá o direito de subversão à autoridade atual de nossa comunidade cristã. Devemos, pelo menos, respeitá-la.

Aos Patrões.
1.        O empresário deve colocar sua confiança em Deus, e não em suas posses; precisa deixar o orgulho, praticar o bem, fazer boas obras, ser generoso, estar pronto para repartir os bens materiais e, assim, aumentar seu tesouro espiritual. Deve encarar sua vida abastada como um privilégio, uma oportunidade para expandir o bem entre os mais necessitados. Deve perceber que é mordomo do que Deus lhe confiou, e deve usar seus bens para o bem do próximo.
2.        Efé. 6.5-9: devemos servir nossos patrões com temor e tremos, sinceridade de coração como a Cristo.
3.        Jamais se justificam nem a violência sindical ou a exploração empresarial e multinacional.

Ao Estado (governos).
a.       Devemos respeitar, obedecer e até orar por nossos governantes e governos, pois sua autoridade foi dada por nosso Deus, cumprem Seus propósitos eternos, e que se opõe a eles está desobedecendo ao próprio Deus. Rom. 13.1-2, Atos 17.25-26.
b.       Mas jamais podemos aceitar uma glorificação religiosa do Estado ou de seu governante. Os reis e reinos deste mundo são apenas temporários. Esperam para que um dia o Rei dos Reis estabeleça seu Reino em definitivo neste planeta. Dan. 3.
c.        O cristão deve obedecer às autoridades, até o momento em que sua ideologia, forma de governo e intenções não estejam em desacordo com os princípios divinos. Primeiro precisamos obedecer a Deus, depois aos homens, se isto for possível.
d.       Como podemos obedecer a uma autoridade que não respeita a dignidade humana e explora o próximo? EX- obedecer o regime nazista de Hitler que pregava a destruição das “raças inferiores”? 
e.       Amós 2.6-8, 5.11. Apesar disto, Amós não lançou uma campanha de subversão ao governo. Ele falou diretamente com os responsáveis.
f.         Numa guerra injusta contra outro país, que posição o jovem soldado cristão deve tomar: desistir por covardia ou convicção própria; ir à luta injusta; servir sem armas, na enfermagem ou em outra atividade civil? É muito complicada sua situação. Só a pessoa pode analisar, escolher e decidir fazer algo neste caso. É uma questão de consciência.
g.        Em um regime totalitário existem poucas oportunidade para a livre expressão de pensamentos. Qualquer crítica ao regime é esmagada pela violência. Não nos resta outro caminho senão o da dor, e da perseguição por causa de Cristo e Seu evangelho. EX- os valdenses, os russos na era comunista.
h.       Em uma guerra civil a que governo o cristão deve submeter-se? Ao governo reconhecido internacionalmente, ao governo de sua região ou à liderança que zela pelo sistema democrático? Algumas perguntas que podem ajudar a avaliar a legitimidade de tais governos são: Esse governo deseja estabelecer um regime democrático, livre e pluralista? Foi eleito por voto livre e direto? Deseja o desenvolvimento da nação sob um regime de paz e justiça? Tem o apoio do mundo livre? Permite vários partidos livres? É a favor da livre expressão de pensamentos?

FONTE: A ética dos 10 mandamentos, pp. 97-111. Ed. Vida Nova.

APELO: Você não precisa sair pelo mundo, se envolver nas maiores aventuras da Terra para ter sucesso e ser feliz. Pode simplesmente começar pela sua casa, amando seus pais e parentes. Que tal alcançar o “topo” já. Ame-os agora.


Pr. MARCELO AUGUSTO DE CARVALHO 1997 SP

domingo, 9 de agosto de 2015

Diretrizes Especificas Para A Interpretação da Escritura III: Analise Teológica E Aplicação Contemporânea




Os escritores bíblicos fornecem abundantes evidencias da necessidade de determinar a mensagem teológica de uma passagem como parte do empreendimento hermenêutico. Jesus revela, por exemplo, as implicações teológicas de longo alcance do decálogo no sermão do monte (Mt 5:17-28). O concilio de Jerusalém apresenta a ideia teologica importada de Amos 9:11 e 12, de que os gentios não precisavam se converter ao judaísmo para se tornar cristãos (Atos:15:13-21)

Métodos De Estudo Teológico

 

a.                      Abordagem livro por livro. Escritores inspirados como João pedem que seus leitores estudem o livro bíblico do começo ao fim (Ap 22:18,19). Cada escritor bíblico forneceu uma perspectiva única dentro da harmonia global da verdade bíblica. Em vista disso, é extremamente compensador lançar mão de um livro inteiro e captar seu tema teológico principal. Às vezes, a mensagem é um único e predominante tema, contendo diversos subtemas e motivo; outras vezes, há temas diversificados e paralelos. È útil fazer um esboço do livro, esquematizando o fluxo do pensamento seguido pelo escritor bíblico.
b.                      Exposição verso por verso. Os sermões de Pedro e Paulo (At 2;3;13) ilustram o método de exposição verso por verso de passagens bíblicas. O que se enfatiza nesse tipo de estudo são os princípios e as verdades teológicas básicas que emergem da passagem e que possuem aplicação pratica. É importante enfocar um único verso da Escritura por sua vez, até que a reflexão e o estudo diligente, realizados a guia do Espirito Santo, torne claro o significado.
c.                       Estudo tópico/temático. A abordagem temática é ilustrada com toda clareza na própria pregação de Jesus (Lc 24:25-27). Essa abordagem toma temas bíblicos explícitos e deixa que a Escritura seja sua própria interprete, reunindo e comparando todos os dados bíblicos sobre determinado tema. O uso de concordância e referencias cruzadas para rastrear palavras-chave e conceitos é extremamente importante. Exemplos de grandes temas bíblicos a serem investigados são o sábado, a segunda vinda, a morte e ressurreição, a salvação, o santuário, o arrependimento e o juízo. Mas também pode ser feita uma abordagem que traga problemas da vida moderna, alguma necessidade especifica atual e procurar aplicar tudo o que a bíblia fala sobre este tema, contudo se deve ter cuidado para não cometer erro e fazer falsa analogia, por isso, deve-se ter muito cuidado com o verdadeiro sentido de cada texto para o remeter.
d.                      Perspectiva do grandioso tema central. Os escritores do NT fazem suas analises teológicas de passagens especificas considerando o contexto mais amplo do multifacetado “Grandioso Tema Central” da escritura, conforme apresentado na abertura e no encerramento das páginas da bíblia (Gn 1-3; Ap 20-22). Isso inclui: a criação e o plano divino para este mundo, o caráter de Deus, o surgimento do conflito moral cósmico, o plano da redenção-restauração em Cristo e sua obra expiatória, o Juízo escatológico e o termino do pecado no clímax da história. O “grandioso tema central” se torna assim um referencial capaz de promover não só unidade e harmonia essencial, mas também significado fundamental aos diversos temas bíblicos.
e.                       Analise da estrutura literária. A estrutura literária de um livro se torna muitas vezes a chave para uma compreensão mais clara de sua mensagem teologica central de um livro. Em Levítico, o Dia da Expiação, descrito no capítulo 16, é o ápice da estrutura quiasmática. O dia mais sagrado do ano judaico, no qual a pessoa mais sagrada da Terra (o sumo sacerdote) entra no lugar mais sagrado da terra (lugar santíssimo) para realizar a tarefa mais sagrada de todo o ano – esse dia é reservado para o capitulo central da torah. O fato dele ter sido posto dentro de Levítico – acompanhado de um lado (Lv 1-15) pela menção constante de sangue e sacrifício, e do lado oposto (Lv 17-23), por repetidos apelos à santidade – fornece uma perspectiva teológica equilibrada do Dia da Expiação.

2 Passagens Teológicas Problemáticas

            Ao lidar com passagens teológicas aparentemente problemáticas, principalmente as que dizem respeito ao caráter de Deus, ou com supostas distorções da verdade, podem ser uteis as seguintes perguntas:

a.                       Qual a visão global do caráter de Deus na Escritura, especialmente conforme revelada no calvário? É preciso lembrar que o Pai e o Filho possuem o mesmo caráter (Jo 14:9) e que o Deus do AT é o mesmo do NT (Jo 8:58). Corretamente compreendidas no contexto abrangente do grande conflito, todas as passagens da Escritura apresentam um retrato coerente e uniforme do caráter de Deus (ver Grande conflito I – IV).
b.                      Existe na Escrita ou em material extrabiblico alguma informação adicional especifica relevante para a passagem problemática? Muitas vezes, uma aparente dificuldade na escritura é esclarecida quando se leva em conta todos os fatos bíblicos. Um exemplo disso é a morte violenta de Uzá. À primeira vista parece que ele estendeu a mão inconscientemente para impedir a arca de cair (2Sm 6:3-7), mas fica mais claro quando se percebe que a arca havia permanecido cerca de 20 anos na própria casa dele, aos cuidados de seu pai (ISm 7:1,2; 2Sm 6:3). Ao que parece, durante esse tempo Uzá perdera o senso de que a arca era um artefato sagrado. Esse desrespeito pelo sagrado também se revela na violação das divinas ordens e especificações acerca do transporte da arca (Nm 4:15; 7:9). Por toda a Escritura, Deus leva a sério o pecado da irreverencia (2Rs 2:23,24; Lv 10:1-3), porque o respeito a Deus é vital para o relacionamento entre a divindade e a humanidade.
c.                       Deus age como um “cirurgião divino” cortando a parte infectada para salvar todo o corpo? Deus fornece este princípio especifico como razão para a pena de morte contra filhos inteiramente entregues a rebeldia (Dt 21:21) explica também o extermínio em massa dos Amorreus e individual como o de acã (Js7). O castigo infligido a um ou alguns levavam outros ao arrependimento e a respeitar a Deus além de evitar a necessidade de punir muitos.
d.                      Compreender o pensamento hebraico resolve a dificuldade de interpretação? Os escritores do AT não aceitavam e muitas vezes agiram explicitamente contra a teologia mitológica e politeísta dos povos dos seus arredores. Da mesma forma os escritores do NT mesmo utilizando o grego não se desviavam do pensamento hebraico e não absorveram pensamentos da cultura grega como o gnosticismo. Da mesma forma o interprete não deve acrescentar, a forma hebraica de pensar das escrituras, os pensamentos modernos, grego ou do antigo Oriente Próximo. O pensamento hebraico, por exemplo, não costuma fazer diferença entre causa e atuação, desta forma normalmente atribuem a Deus eventos que ele não evitou. Podemos perceber isso na passagem em que diz que Deus endureceu o coração do Faraó (Êx 9:12), quando este texto deve ser interpretado a luz da passagem do mesmo contexto que diz que “o faraó endureceu o próprio coração” (Ex 8:15,32; 9:34). Isto é, Deus iniciou as circunstâncias (apelos e pragas) que levaram faraó a tomar uma decisão (endurecer o coração). Não há nenhum conflito no pensamento hebraico ao afirmar que Deus causa aquilo que, em Sua soberania, Ele permite.
e.                       Qual é o ideal divino na situação descrita? Este princípio ajuda a explicar a permissão divina para o divórcio na lei mosaica. Jesus chamou a atenção para o fato de que Deus permitiu o divórcio por causa da dureza de coração dos israelitas, “entretanto, não foi assim desde o Princípio” (Mt 19:8; Gn 2:24)
f.                                   A atividade divina é um artificio para chamar a atenção, para despertar seu povo para que lhe dê ouvidos? Às vezes, Deus teve que adotar o que pareciam ser medidas extremas, para despertar Seu povo da letargia e dos pecados em que estavam mergulhados. Dentre essas medidas se acham os atos simbólicos representados por Ezequiel, nos últimos dias que antecederam o cativeiro babilônico (Ez 4;5), bem como a ordem divina de Oseias se casar com uma “mulher de Prostituições”, nos últimos dias de graça do reino do norte (Os 1:2).
g.                      Existem ainda pontos não completamente explicáveis ou compreensíveis? Nem sempre será possível nesta vida entender por que Deus fez certas coisas do jeito que fez. Algumas questões como o sofrimento dos inocentes e a morte de crianças só serão explicadas quando o próprio Cristo nos explicar após a sua segunda vinda. Apesar disso, a Escritura fornece evidências e respostas suficientes para que o estudante da Bíblia possa entoar o cântico de Moises e do cordeiro: Justo e verdadeiro são os Teus caminhos, ó Rei das nações! (Ap 15:3)

 

3 As Escrituras Apontam Para Além De Si Mesma

 

Examinaremos agora aquelas partes da Escritura que apontam intrinsecamente para um cumprimento além dela mesma, como profecia e tipologia, ou para significado expandido além dela mesma, como simbolismo e parábolas.

a.                      Profecia. As diversas observações gerais provenientes do testemunho que a Bíblia dá de si mesma são fundamentais para o material profético. Primeiramente, a Bíblia afirma que somente Deus é capaz de predizer o futuro, tanto o próximo como o distante (Is 46:10; Dn 2:45). Segundo lugar, a profecia preditiva não foi dada meramente para satisfazer a curiosidade sobre acontecimentos futuros, mas tendo em vista a objetivos morais, como a confirmação da fé (Jo 14:29) e a promoção da santidade pessoal na preparação para a vinda de Cristo (Mt 24:44; Ap 22:7,10,11). Terceiro lugar, os padrões interpretativos da profecia preditiva devem ser encontrados dentro da própria escritura. Quarto lugar, compreender a estrutura literária de um livro profético fornece proveitoso apoio comprobatório para a interpretação. Quinto lugar, deve-se exercer bastante cautela com profecias ainda não cumpridas. O conselho de Jesus com referência a um proposito moral básico em toda a profecia é pertinente: ela é dada para que, quando acontecer, nós creiamos (Jo 14:29). Antes de acontecer não é possível compreender todos os detalhes das predições, por mais claro que seja o contorno básico dos acontecimentos e das questões.
b.                      Tipologia. Podemos definir tipologia como o estudo de pessoas, acontecimentos ou instituições na história da salvação escolhidos especificamente por Deus para prefigurar de forma preditiva o cumprimento escatológico e antitípico dele mesmo em Cristo e nas realidades evangélicas originadas em Cristo.
As cinco características da tipologia são:
(1)                   A tipologia tem suas raízes na história. Não se perder de vista o caráter histórico real dos acontecimentos, pessoas e instituições. A tipologia está em contraste com a alegoria, que aponta para um significado que denigre e até mesmo rejeita o evidente senso histórico.
(2)                   Um tipo prefigura ou representa o que está por vir. O tipo está em contraste com o símbolo, que é em si mesmo uma representação atemporal da verdade. 
(3)                   Um tipo prefigura, mas não de forma explicita ou verbal. O tipo está em contraste com a preditiva.
(4)                   A tipologia envolve uma correspondência superior. O antítipo é maior do que o tipo. Jesus anunciou que Ele próprio era “maior do que” o templo, que o profeta Jonas e o rei Salomão ( Mt 12:6,41,42).
(5)                   Um tipo é divinamente ordenado para funcionar como uma prefiguração do antítipo. Os escritores do NT reservaram a palavra “tipo” para as realidades históricas escolhidas por Deus para prenunciar um cumprimento antitípico.
Ao explorar o cumprimento tipológico de pessoas, acontecimentos e instituições do AT, os escritores do NT não atribuem ao AT significados que lá não estão. Ao contrário, permanecem fiéis às escrituras do AT, que, de antemão indicam quais pessoas, acontecimento e instituições Deus escolheu para servir como tipos. A única coisa que os escritores do NT fazem é anunciar o cumprimento antitípico daquilo que já foi expresso pelos profetas do AT. João anuncia que Jesus é o Moises antitípico, baseando-se em Deuteronômio 18:15-19, segundo o que, O Messias seria um novo Moisés (Jo 1:21; 6:14)
c.                       Simbolismo. Um simbolismo é a representação atemporal da verdade. É assim que um cordeiro simboliza inocência, e um chifre, força. Mas os símbolos bíblicos se transformam muitas vezes nos blocos de construção da profecia e da tipologia. Cristo, o Cordeiro de Deus (Jo 1:29), e os quatros chifres e o chifre pequeno de Daniel representam poderes políticos ou políticos religiosos específicos.
Ao interpretar os símbolos da escritura, é possível extrair os princípios básicos da própria maneira como a escritura emprega o simbolismo.
d.                      Parábolas. Pelo menos um terço dos ensinamentos de Jesus, conforme registrados nos evangelhos, foram ministrados sobre a forma de parábolas (aproximadamente 40 parábolas diferentes). Também encontramos parábolas no AT, contada por Natan (2Sm 12:1-4) e contada por Isaias (Is 5:1-7).
O gênero parábola apresenta diferentes formas: Provérbios ( Lc 4:23), metáforas (Mt 15:13), ditos figurativos (Lc 5:36-38), comparações (Mc 4:30-32), história (Mt 25:1-13) e alegóricas (Mc 4:1-9). Todas as formas utilizadas por Jesus encerram um elemento comum: Ele extrai das experiências diárias comparações com as verdades de seu reino.
A parábola se difere da alegoria, já que nesta o interprete posterior extrai do texto um nível de significado mais profundo, nunca pretendido nem indicado pelo escritor original.

2 Aplicação Contemporânea


Escritura como transcultural e transtemporal  


Os escritores bíblicos insistem em que a mensagem teologica da Escritura não se acha aprisionada na cultura, nem se aplica somente a determinadas pessoas e a determinado tempo. Ao contrário, é permanente e universalmente aplicável. O próprio pedro utilizou texto de Isaías (40:6-8; I Pe 1:23-25) para falar sobre a palavra de Deus.
Grande parte da instrução ética contida nos evangelhos e epistolas do NT pode ser vista como aplicação prática de passagens do AT. O sermão do monte proferido por Jesus, é aplicação dos princípios do Decálogo; a carta de Tiago, uma aplicação dos princípios de Levítico 19; a carta de Pedro, uma instrução ética construída sobre o versículo “sede santos porque Eu sou santo” (I Pe 1:16, Lv 11:44,45; 19:2; 20:7).

Controles escriturísticos para determinar permanência


O princípio geral articulado e ilustrado pelos escritores do NT, em sua aplicação da Escritura, é aceitar a relevância transcultural e transtemporal da instrução bíblica, a menos que a própria escritura forneça critérios que limitem essa relevância. Exemplo disso são as leis sacrificais/cerimonias que encontraram seu fim em ocasião do seu cumprimento na cruz sendo anunciado a sua vigência no AT (Ex 25:9, 40; Hb 8:5; Sl 40:6-8 Hb 10:1-10; e Dn 9:27)

Personalizando a Escritura


O objetivo final de quem interpreta a Escritura é fazer a aplicação prática de cada passagem à vida individual. Cristo e os apóstolos reforçaram repetidas vezes a mensagem do evangelho contida nas Escrituras, a fim de levar seus ouvintes e leitores à salvação e a relação pessoal mais intima com Deus.
É essencial que o interprete faça a passagem as seguintes perguntas: Que mensagem e objetivo da passagem Deus quer que eu aplique a mim mesmo? Como esta passagem afeta a minha vida espiritual? Que pecado ou fracasso mostra para eu evitar? Quais princípios eternos se aplicam a mim atualmente?
Devemos, em última análise, ler e aceitar a Escritura como se fossemos participantes nos poderosos atos salvíficos de Deus, como se as mensagens divinas fossem pessoalmente a nós dirigidas – a viva e ativa Palavra de Deus falando à nossa alma.

Bibliografia


Tratado de Teologia Adventista