Os escritores bíblicos fornecem
abundantes evidencias da necessidade de determinar a mensagem teológica de uma
passagem como parte do empreendimento hermenêutico. Jesus revela, por exemplo,
as implicações teológicas de longo alcance do decálogo no sermão do monte (Mt
5:17-28). O concilio de Jerusalém apresenta a ideia teologica importada de Amos
9:11 e 12, de que os gentios não precisavam se converter ao judaísmo para se
tornar cristãos (Atos:15:13-21)
Métodos De Estudo Teológico
a.
Abordagem
livro por livro. Escritores inspirados como João pedem que seus leitores
estudem o livro bíblico do começo ao fim (Ap 22:18,19). Cada escritor bíblico
forneceu uma perspectiva única dentro da harmonia global da verdade bíblica. Em
vista disso, é extremamente compensador lançar mão de um livro inteiro e captar
seu tema teológico principal. Às vezes, a mensagem é um único e predominante
tema, contendo diversos subtemas e motivo; outras vezes, há temas
diversificados e paralelos. È útil fazer um esboço do livro, esquematizando o
fluxo do pensamento seguido pelo escritor bíblico.
b.
Exposição
verso por verso. Os sermões de Pedro e Paulo (At 2;3;13) ilustram o método
de exposição verso por verso de passagens bíblicas. O que se enfatiza nesse
tipo de estudo são os princípios e as verdades teológicas básicas que emergem
da passagem e que possuem aplicação pratica. É importante enfocar um único
verso da Escritura por sua vez, até que a reflexão e o estudo diligente,
realizados a guia do Espirito Santo, torne claro o significado.
c.
Estudo
tópico/temático. A abordagem temática é ilustrada com toda clareza na
própria pregação de Jesus (Lc 24:25-27). Essa abordagem toma temas bíblicos
explícitos e deixa que a Escritura seja sua própria interprete, reunindo e
comparando todos os dados bíblicos sobre determinado tema. O uso de
concordância e referencias cruzadas para rastrear palavras-chave e conceitos é
extremamente importante. Exemplos de grandes temas bíblicos a serem
investigados são o sábado, a segunda vinda, a morte e ressurreição, a salvação,
o santuário, o arrependimento e o juízo. Mas também pode ser feita uma
abordagem que traga problemas da vida moderna, alguma necessidade especifica
atual e procurar aplicar tudo o que a bíblia fala sobre este tema, contudo se
deve ter cuidado para não cometer erro e fazer falsa analogia, por isso,
deve-se ter muito cuidado com o verdadeiro sentido de cada texto para o
remeter.
d.
Perspectiva
do grandioso tema central. Os escritores do NT fazem suas analises
teológicas de passagens especificas considerando o contexto mais amplo do
multifacetado “Grandioso Tema Central” da escritura, conforme apresentado na
abertura e no encerramento das páginas da bíblia (Gn 1-3; Ap 20-22). Isso
inclui: a criação e o plano divino para este mundo, o caráter de Deus, o
surgimento do conflito moral cósmico, o plano da redenção-restauração em Cristo
e sua obra expiatória, o Juízo escatológico e o termino do pecado no clímax da
história. O “grandioso tema central” se torna assim um referencial capaz de
promover não só unidade e harmonia essencial, mas também significado
fundamental aos diversos temas bíblicos.
e.
Analise
da estrutura literária. A estrutura literária de um livro se torna muitas
vezes a chave para uma compreensão mais clara de sua mensagem teologica central
de um livro. Em Levítico, o Dia da Expiação, descrito no capítulo 16, é o ápice
da estrutura quiasmática. O dia mais sagrado do ano judaico, no qual a pessoa
mais sagrada da Terra (o sumo sacerdote) entra no lugar mais sagrado da terra
(lugar santíssimo) para realizar a tarefa mais sagrada de todo o ano – esse dia
é reservado para o capitulo central da torah. O fato dele ter sido posto dentro
de Levítico – acompanhado de um lado (Lv 1-15) pela menção constante de sangue
e sacrifício, e do lado oposto (Lv 17-23), por repetidos apelos à santidade –
fornece uma perspectiva teológica equilibrada do Dia da Expiação.
2 Passagens Teológicas Problemáticas
Ao lidar
com passagens teológicas aparentemente problemáticas, principalmente as que
dizem respeito ao caráter de Deus, ou com supostas distorções da verdade, podem
ser uteis as seguintes perguntas:
a.
Qual a
visão global do caráter de Deus na Escritura, especialmente conforme revelada
no calvário? É preciso lembrar que o Pai e o Filho possuem o mesmo caráter
(Jo 14:9) e que o Deus do AT é o mesmo do NT (Jo 8:58). Corretamente
compreendidas no contexto abrangente do grande conflito, todas as passagens da
Escritura apresentam um retrato coerente e uniforme do caráter de Deus (ver
Grande conflito I – IV).
b.
Existe na
Escrita ou em material extrabiblico alguma informação adicional especifica
relevante para a passagem problemática? Muitas vezes, uma aparente dificuldade na escritura é
esclarecida quando se leva em conta todos os fatos bíblicos. Um exemplo disso é
a morte violenta de Uzá. À primeira vista parece que ele estendeu a mão
inconscientemente para impedir a arca de cair (2Sm 6:3-7), mas fica mais claro
quando se percebe que a arca havia permanecido cerca de 20 anos na própria casa
dele, aos cuidados de seu pai (ISm 7:1,2; 2Sm 6:3). Ao que parece, durante esse
tempo Uzá perdera o senso de que a arca era um artefato sagrado. Esse
desrespeito pelo sagrado também se revela na violação das divinas ordens e especificações
acerca do transporte da arca (Nm 4:15; 7:9). Por toda a Escritura, Deus leva a
sério o pecado da irreverencia (2Rs 2:23,24; Lv 10:1-3), porque o respeito a
Deus é vital para o relacionamento entre a divindade e a humanidade.
c.
Deus age
como um “cirurgião divino” cortando a parte infectada para salvar todo o corpo?
Deus fornece este princípio especifico como razão para a pena de morte contra
filhos inteiramente entregues a rebeldia (Dt 21:21) explica também o extermínio
em massa dos Amorreus e individual como o de acã (Js7). O castigo infligido a
um ou alguns levavam outros ao arrependimento e a respeitar a Deus além de evitar
a necessidade de punir muitos.
d.
Compreender
o pensamento hebraico resolve a dificuldade de interpretação? Os escritores
do AT não aceitavam e muitas vezes agiram explicitamente contra a teologia
mitológica e politeísta dos povos dos seus arredores. Da mesma forma os
escritores do NT mesmo utilizando o grego não se desviavam do pensamento
hebraico e não absorveram pensamentos da cultura grega como o gnosticismo. Da
mesma forma o interprete não deve acrescentar, a forma hebraica de pensar das
escrituras, os pensamentos modernos, grego ou do antigo Oriente Próximo. O pensamento
hebraico, por exemplo, não costuma fazer diferença entre causa e atuação, desta
forma normalmente atribuem a Deus eventos que ele não evitou. Podemos perceber
isso na passagem em que diz que Deus endureceu o coração do Faraó (Êx 9:12),
quando este texto deve ser interpretado a luz da passagem do mesmo contexto que
diz que “o faraó endureceu o próprio coração” (Ex 8:15,32; 9:34). Isto é, Deus
iniciou as circunstâncias (apelos e pragas) que levaram faraó a tomar uma
decisão (endurecer o coração). Não há nenhum conflito no pensamento hebraico ao
afirmar que Deus causa aquilo que, em Sua soberania, Ele permite.
e.
Qual é o
ideal divino na situação descrita? Este princípio ajuda a explicar a
permissão divina para o divórcio na lei mosaica. Jesus chamou a atenção para o
fato de que Deus permitiu o divórcio por causa da dureza de coração dos
israelitas, “entretanto, não foi assim desde o Princípio” (Mt 19:8; Gn 2:24)
f.
A atividade divina é um artificio
para chamar a atenção, para despertar seu povo para que lhe dê ouvidos? Às
vezes, Deus teve que adotar o que pareciam ser medidas extremas, para despertar
Seu povo da letargia e dos pecados em que estavam mergulhados. Dentre essas
medidas se acham os atos simbólicos representados por Ezequiel, nos últimos
dias que antecederam o cativeiro babilônico (Ez 4;5), bem como a ordem divina
de Oseias se casar com uma “mulher de Prostituições”, nos últimos dias de graça
do reino do norte (Os 1:2).
g.
Existem
ainda pontos não completamente explicáveis ou compreensíveis? Nem sempre
será possível nesta vida entender por que Deus fez certas coisas do jeito que
fez. Algumas questões como o sofrimento dos inocentes e a morte de crianças só
serão explicadas quando o próprio Cristo nos explicar após a sua segunda vinda.
Apesar disso, a Escritura fornece evidências e respostas suficientes para que o
estudante da Bíblia possa entoar o cântico de Moises e do cordeiro: Justo e
verdadeiro são os Teus caminhos, ó Rei das nações! (Ap 15:3)
3 As Escrituras Apontam Para Além De Si Mesma
Examinaremos agora aquelas partes
da Escritura que apontam intrinsecamente para um cumprimento além dela mesma,
como profecia e tipologia, ou para significado expandido além dela mesma, como
simbolismo e parábolas.
a.
Profecia.
As diversas observações gerais provenientes do testemunho que a Bíblia dá
de si mesma são fundamentais para o material profético. Primeiramente, a Bíblia
afirma que somente Deus é capaz de predizer o futuro, tanto o próximo como o
distante (Is 46:10; Dn 2:45). Segundo lugar, a profecia preditiva não foi dada
meramente para satisfazer a curiosidade sobre acontecimentos futuros, mas tendo
em vista a objetivos morais, como a confirmação da fé (Jo 14:29) e a promoção
da santidade pessoal na preparação para a vinda de Cristo (Mt 24:44; Ap
22:7,10,11). Terceiro lugar, os padrões interpretativos da profecia preditiva
devem ser encontrados dentro da própria escritura. Quarto lugar, compreender a
estrutura literária de um livro profético fornece proveitoso apoio comprobatório
para a interpretação. Quinto lugar, deve-se exercer bastante cautela com
profecias ainda não cumpridas. O conselho de Jesus com referência a um
proposito moral básico em toda a profecia é pertinente: ela é dada para que,
quando acontecer, nós creiamos (Jo 14:29). Antes de acontecer não é possível compreender
todos os detalhes das predições, por mais claro que seja o contorno básico dos
acontecimentos e das questões.
b.
Tipologia.
Podemos definir tipologia como o estudo de pessoas, acontecimentos ou
instituições na história da salvação escolhidos especificamente por Deus para
prefigurar de forma preditiva o cumprimento escatológico e antitípico dele
mesmo em Cristo e nas realidades evangélicas originadas em Cristo.
As cinco características da tipologia são:
(1)
A tipologia
tem suas raízes na história. Não se perder de vista o caráter histórico
real dos acontecimentos, pessoas e instituições. A tipologia está em contraste
com a alegoria, que aponta para um significado que denigre e até mesmo rejeita
o evidente senso histórico.
(2)
Um tipo
prefigura ou representa o que está por vir. O tipo está em contraste com o símbolo,
que é em si mesmo uma representação atemporal da verdade.
(3)
Um tipo
prefigura, mas não de forma explicita ou verbal. O tipo está em contraste
com a preditiva.
(4)
A
tipologia envolve uma correspondência superior. O antítipo é maior do que o
tipo. Jesus anunciou que Ele próprio era “maior do que” o templo, que o profeta
Jonas e o rei Salomão ( Mt 12:6,41,42).
(5)
Um tipo é
divinamente ordenado para funcionar como uma prefiguração do antítipo. Os escritores
do NT reservaram a palavra “tipo” para as realidades históricas escolhidas por
Deus para prenunciar um cumprimento antitípico.
Ao explorar o cumprimento tipológico
de pessoas, acontecimentos e instituições do AT, os escritores do NT não atribuem
ao AT significados que lá não estão. Ao contrário, permanecem fiéis às
escrituras do AT, que, de antemão indicam quais pessoas, acontecimento e
instituições Deus escolheu para servir como tipos. A única coisa que os escritores
do NT fazem é anunciar o cumprimento antitípico daquilo que já foi expresso
pelos profetas do AT. João anuncia que Jesus é o Moises antitípico, baseando-se
em Deuteronômio 18:15-19, segundo o que, O Messias seria um novo Moisés (Jo
1:21; 6:14)
c.
Simbolismo.
Um simbolismo é a representação atemporal da verdade. É assim que um cordeiro
simboliza inocência, e um chifre, força. Mas os símbolos bíblicos se
transformam muitas vezes nos blocos de construção da profecia e da tipologia.
Cristo, o Cordeiro de Deus (Jo 1:29), e os quatros chifres e o chifre pequeno
de Daniel representam poderes políticos ou políticos religiosos específicos.
Ao interpretar os símbolos da
escritura, é possível extrair os princípios básicos da própria maneira como a
escritura emprega o simbolismo.
d.
Parábolas.
Pelo menos um terço dos ensinamentos de Jesus, conforme registrados nos evangelhos,
foram ministrados sobre a forma de parábolas (aproximadamente 40 parábolas
diferentes). Também encontramos parábolas no AT, contada por Natan (2Sm 12:1-4)
e contada por Isaias (Is 5:1-7).
O gênero parábola apresenta diferentes formas: Provérbios (
Lc 4:23), metáforas (Mt 15:13), ditos figurativos (Lc 5:36-38), comparações (Mc
4:30-32), história (Mt 25:1-13) e alegóricas (Mc 4:1-9). Todas as formas utilizadas
por Jesus encerram um elemento comum: Ele extrai das experiências diárias comparações
com as verdades de seu reino.
A parábola se difere da alegoria, já que nesta o interprete
posterior extrai do texto um nível de significado mais profundo, nunca
pretendido nem indicado pelo escritor original.
2 Aplicação Contemporânea
Escritura como transcultural e transtemporal
Os escritores bíblicos insistem em
que a mensagem teologica da Escritura não se acha aprisionada na cultura, nem
se aplica somente a determinadas pessoas e a determinado tempo. Ao contrário, é
permanente e universalmente aplicável. O próprio pedro utilizou texto de Isaías
(40:6-8; I Pe 1:23-25) para falar sobre a palavra de Deus.
Grande parte da instrução ética
contida nos evangelhos e epistolas do NT pode ser vista como aplicação prática
de passagens do AT. O sermão do monte proferido por Jesus, é aplicação dos princípios
do Decálogo; a carta de Tiago, uma aplicação dos princípios de Levítico 19; a
carta de Pedro, uma instrução ética construída sobre o versículo “sede santos
porque Eu sou santo” (I Pe 1:16, Lv 11:44,45; 19:2; 20:7).
Controles escriturísticos para determinar permanência
O princípio geral articulado e
ilustrado pelos escritores do NT, em sua aplicação da Escritura, é aceitar a relevância
transcultural e transtemporal da instrução bíblica, a menos que a própria escritura
forneça critérios que limitem essa relevância. Exemplo disso são as leis sacrificais/cerimonias
que encontraram seu fim em ocasião do seu cumprimento na cruz sendo anunciado a
sua vigência no AT (Ex 25:9, 40; Hb 8:5; Sl 40:6-8 Hb 10:1-10; e Dn 9:27)
Personalizando a Escritura
O objetivo final de quem interpreta
a Escritura é fazer a aplicação prática de cada passagem à vida individual.
Cristo e os apóstolos reforçaram repetidas vezes a mensagem do evangelho
contida nas Escrituras, a fim de levar seus ouvintes e leitores à salvação e a
relação pessoal mais intima com Deus.
É essencial que o interprete faça
a passagem as seguintes perguntas: Que mensagem e objetivo da passagem Deus
quer que eu aplique a mim mesmo? Como esta passagem afeta a minha vida
espiritual? Que pecado ou fracasso mostra para eu evitar? Quais princípios eternos
se aplicam a mim atualmente?
Devemos, em última análise, ler e aceitar
a Escritura como se fossemos participantes nos poderosos atos salvíficos de Deus,
como se as mensagens divinas fossem pessoalmente a nós dirigidas – a viva e ativa
Palavra de Deus falando à nossa alma.
Bibliografia
Tratado de Teologia Adventista
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