domingo, 2 de agosto de 2015

Diretrizes Especificas Para A Interpretação Da Escritura II: Analise Literária E Analise Verso Por Verso


1 Analise Literária


Para interpretar a Bíblia adequadamente, é preciso reconhecer que o contexto literário da escritura não é menos importante do que o seu contexto histórico. A escritura não é somente um livro de história, mas também uma obra de arte literária.
A própria escritura provê numerosos indicadores explícitos de suas qualidades literárias e implícitos e da importância de reconhecer essas qualidades como parte integrante da tarefa hermenêutica.

Limites da passagem


            Uma das primeiras tarefas do interprete é identificar o limite das passagens a fim de se compreender a unidade total do pensamento do qual o fragmento faz parte, desta forma, poderá determinar o que vem antes e o que vem depois e compreender como o fragmento se ajusta do fluxo do documento inspirado.
            Apesar que o texto bíblico originalmente não possuía as divisões de capítulos e versículos, os escritores bíblicos forneceram alguns indicadores de limites para a passagem. O livro de gênesis é dividido em 10 partes que iniciam com “as gerações de [...]”. O livro de Salmos cada capitulo é dividido por um único salmo e alguns possuem subdivisões como estrofes (Sl 42:5,11; Sl 43:5).
            Antes do NT, o pentateuco divide-se em pequenas seções para serem lidas na sinagoga a cada sábado (At 13:15, 27). Jesus reconheceu essas divisões da Torah, quando se referiu ao “trecho referente à sarça” (Lc 20:37; Ex 3:3-6).
            Acompanhando as referências explicitas dos escritores bíblicos e examinando cuidadosamente os seus escritos poderemos estabelecer os limites literários e lógicos da passagem em consideração.

Tipos Literários


            Ao estudar qualquer texto é importante identificar que tipo de literatura está sendo examinada. Isso inclui tanto as categorias mais gerais de poesia e prosa como também os gêneros mais específicos, tais como documentos legais, cartas, hinos, etc. Cada forma literária possui sua função no texto e forma de interpretação distinta. Reconhecer a forma literária usada no texto torna a interpretação mais apropriada.
a)     Prosa: Muitos tipos literários em prosa foram explicitamente identificado pelo autor, outros no entanto foram analisados através de estudos e incluem discurso e sermões (Js 23; 24; I Sm 12; I Rs 2: 1-9), ordenanças culturais (Lv 1-7), etc. Especialmente importante as narrativas bíblicas que inclui gêneros como História (de Josué até II Crônicas; Atos) relatórios ou anais (I Rs11:41; 14:19,20), auto biografia (Esdras e Neemias) relatos de sonhos e visões (Gn 37:5-10; 40:9-19) e auto biografia profética (Is 8:1-3; Jr 36; Dn 1-6).
Estudos recentes têm focado particularmente a narrativa como um gênero literário que implica elevada capacidade artística. O estudante da bíblia, que aceita o relato como história factual, pode se beneficiar examinando cuidadosamente a forma como o autor inspirado estruturou a narrativa para enfatizar pontos vitais. Os elementos básicos da narrativa necessários para se compreender o fluxo do relato incluem: o autor implícito (ou interlocutor invisível) e o leitor implícito, o ponto de vista ou perspectiva geral, a ordem dos acontecimentos e sua inter-relação (“temporalização da história”), o enredo, os personagens e suas caracterizações, o ambiente, e o comentário implícito ou as técnicas retóricas utilizadas no processo narrativo.
b)     Poesia: Algumas versões trazem e organizam as seções poéticas em estrofes, isso porque ela possui características especiais que exigem breve atenção.
O principal elemento da poesia é o paralelismo ou rima conceitual, ele tem sido dividido em três modalidades principais:
Sinonímico: Dois versos sucessivos repetem um pensamento semelhante (Sl 1:2,5; 103:10);
Antitético: Dois versos sucessivos apresentam ideias contrastantes (Sl 1:6; 37:21)
Sintético: O segundo verso acrescenta algo ao primeiro (Sl 2:6; 103:11)
Outro elemento é a métrica, este elemento traz alguns sinais que demonstram lamentos, eles constituem uma tentativa de imitar a inspiração longa e a expiração curta características dos suspiros de quem se lamenta. Este elemento é encontrado em salmos de lamento e no livro de Lamentações.
Além destes elementos, citados a cima, o autor bíblico utilizou outros elementos, mas não são tão usados como os anteriores, esses elementos são:
Inclusio ou construção envelope: A mesma expressão no início e no fim (Sl 8 e 103);
Arostico: Versos ou grupos de versos que começam com letras sucessivas do alfabeto (Sl 9, 10, 25, 34, 37,109, 145);
Símile: Comparação usando “como” (Os 7:11);
Metáfora: Uma realidade representando outra (Sl 23:1; Os 10:1; Jo 10:7,9,11);
Sinédoque: A parte tomada pelo todo (Is 52:1,2);
Onomatopeia: Palavras que lembram aquilo que designam (Jr 19:1,10; Is 17:12,13; Sl 93:4);
Assonância: Repetição de palavras (Is 5:7)
Paronomásia: Trocadilhos e jogos de palavras (Am 8:2,3; Mq 1);
Personificação: (Pv8)
Cada elemento possui características especificas que o interprete deve conhecer para conseguir extrair o verdadeiro sentido e esclarecer o significado teológico do texto.

Estrutura Literária


A análise rigorosa do material bíblico revela que os escritores bíblicos com frequência estruturaram cuidadosamente os versos, Capítulos, livros e até mesmo blocos de livros segundo um modelo artístico-literário. Muitas vezes, a estrutura literária acompanha os elementos básicos da forma literária da passagem. É assim, por exemplo, que um litígio pactual profético costuma conter determinados elementos. A estrutura literária de Mq 6 segue um modelo básico de litigio.
Dois tipos de estrutura literária que dependem do paralelismo poético chamam especial atenção. Um dispositivo de estruturação literária comum é o paralelismo em bloco, que segue o modelo sinonímico em cada verso da poesia. Encontramos este modelo como estrutura dos livros de Josué e Jonas: a sequência da primeira metade do livro é repetida na segunda metade. Outro dispositivo de estruturação literária comum na escritura é o paralelismo inverso, que segue o modelo do paralelismo antitético na menor unidade de duas linhas sucessivas da poesia. Um exemplo é o modelo ABCB¹A¹ de quiasma em verso individual está evidente na “Imagem Invertida” referente às cidades mencionadas em Amos 5:5:
A.    Não busqueis a Betel;
B.     Nem venhas a Gilgal;
C.     Nem passeis a Berseba;
B¹. porque Gilgal, certamente, será levada cativa,
A¹. e Betel será desfeita em nada.

Esse verso tem sido analisado como parte de uma estrutura quiasmatica maior, que abrange Amós 5:1-17, a qual, por sua vez é a parte de um quiasma muito maior, ou seja todo livro de Amós.
O uso que um escritor bíblico faz de um arranjo quiásmatico mostra, com frequência, qual a ênfase do autor inspirado, visto que, na maioria das vezes, essa ênfase climática é posto no ponto central, ou coração, do quiasma. Um exemplo é a referência da entrada de Jesus “além do véu”, em Hebreus 6:17-20, é esclarecida quando comparamos com o elemento estrutural correspondente da entrada de Jesus pelo “pelo véu”, em Hebreus 10:19 e 20. O que demonstra que o cenário de ambas as passagens é a inauguração do santuário celestial.
É preciso haver rigoroso controle dentro do texto para garantir que o estudante da bíblia não imponha artificialmente um esboço ou estrutura ao material bíblico. Esses comandos internos incluem temas, conceitos e motivos equivalentes; e, mais importante, palavras-chave e grupos de palavras equivalentes. Quanto mais explícitos forem os paralelos verbais e estruturais, mais certos podemos estar de que a estrutura realmente pertence à passagem.

2 Analise Verso Por Verso


O objetivo principal do estudante da bíblia é chegar no verdadeiro significado da passagem bíblica. Baseado no princípio da clareza da escritura, é preciso tomar o texto no seu sentido literal a não ser que o próprio texto demonstre o contrário. Em apocalipse 1:7  João descreve que Cristo está “vindo com as nuvens” que indica nuvens literais e não representações figurativas de “distúrbios” ou qualquer outro significado simbólico.
Ao procurar compreender o sentido natural de uma passagem bíblica, o interprete deve analisar cuidadosamente cada verso, dando atenção aos pontos importantes da gramatica e da construção da frase, bem como o significado das palavras-chaves do contexto.

Gramatica E Sintaxe


Os escritores do NT dão exemplos de suas preocupações em representar fielmente as construções sintático-gramaticais do original hebraico e assim apresentar a seus leitores o verdadeiro significado dos textos do AT. Um exemplo nítido da sensibilidade sintático-gramatical por parte de um escritor do NT é a citação do salmo 45:6 e 7 em hebreus 1:8 e 9. O apostolo reconhece que o original Hebraico aponta para Aquele que é ao mesmo tempo Deus, Deduzindo assim a relação existente entre o Pai e o Filho na Divindade (“O Teu trono, ó Deus [...] Por isso Deus, o Teu Deus, te ungiu”).
O interprete da bíblia conta hoje com uma serie de ferramentas de estudo que o iniciante nos aspectos básicos do sistema verbal hebraico e grego e em outros aspectos gramaticais peculiares a cada língua além de uma chave analítica para todo o AT e NT com informação gramatical e lexical por palavra e diversas traduções em diferentes línguas.

Estudo de Termos


            O interprete moderno deve se empenhar em estudar cuidadosamente as palavras vitais da passagem em consideração. O processo de estudos da palavra é mais complexo hoje, pois o hebraico e o aramaico bíblico e o grego koinê são línguas mortas. O estudo completo de determinada palavra de uma passagem compreende o exame de sua terminologia, significado de sua raiz, número e distribuição de ocorrências através da escritura, sua amplitude semântica, acepções básicas, derivados e emprego Extra bíblico. A palavra de ser estudada em seu contexto multifacetado: Ambiente cultural, linguístico, temático e canônico.
            Felizmente, muito desse material de pesquisa já se acha sintetizado em dicionários e léxicos teológicos que abrangem o vocabulário básico do AT e do NT. Uma concordância analítica possibilita consultar todas as ocorrências de uma palavra na língua original e estudar seus variados usos.
            Ao mesmo tempo é extremamente importante lembrar que o determinante final é o contexto no qual a palavra ou a frase está inserida. Por exemplo, o termo “o anjo do SENHOR” pode representar um ser angelical criado ou a Cristo (Gn 16:7-13; 22:11-18) outro exemplo é a palavra “elep” que Êxodo 12:37 pode significar 600 clãs ao invés de 600 mil israelitas, já em Êxodo 38:25 o seu significado só poderia ser de mil em 603.550 israelitas.
            Alguns estudos sobre palavras bíblicas podem trazer mudanças em relação a doutrinas exemplo disso é a palavra “para sempre” (heb. ‘olam, Gr. Aionios), que não significa “sem fim” no contexto do sofrimento dos ímpios no fogo do inferno; “o arrependimento” (naham, “entristecer-se, mover-se de piedade, compadecer-se”) da parte de Deus, que é diferente do “Arrependimento” (shub, “dar meia-volta arrepender-se) do homem. Finalmente, o verbo enkainizo, em hebreus 10:20, que é o termo técnico usado pela Septuaginta para a “inauguração” do santuário (Nm 7:10,11,84,88), sugere que Cristo, por ocasião de sua ascensão, entrou no santuário celestial para inaugurar seus serviços, não para dar início ao ministério do Dia da Expiação.

Conclusão


            Com o que foi apresentado neste estudo, vimos que para alcançar o verdadeiro significado do texto, devemos nos ater nos limites de sua passagem, onde ela inicia e termina, os tipos literários, como a poesia e a prosa, e a estrutura literária e para concluirmos virmos a analise Verso por Verso do texto que nos trouxe uma reflexão sobre a gramatica e a sintaxe e o estudo de termos do texto bíblico.

Referencia

Tratado de teologia Adventista

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