1 Analise Literária
Para interpretar a Bíblia
adequadamente, é preciso reconhecer que o contexto literário da escritura não é
menos importante do que o seu contexto histórico. A escritura não é somente um
livro de história, mas também uma obra de arte literária.
A própria escritura provê
numerosos indicadores explícitos de suas qualidades literárias e implícitos e
da importância de reconhecer essas qualidades como parte integrante da tarefa
hermenêutica.
Limites da passagem
Uma das
primeiras tarefas do interprete é identificar o limite das passagens a fim de se
compreender a unidade total do pensamento do qual o fragmento faz parte, desta
forma, poderá determinar o que vem antes e o que vem depois e compreender como
o fragmento se ajusta do fluxo do documento inspirado.
Apesar que
o texto bíblico originalmente não possuía as divisões de capítulos e
versículos, os escritores bíblicos forneceram alguns indicadores de limites
para a passagem. O livro de gênesis é dividido em 10 partes que iniciam com “as
gerações de [...]”. O livro de Salmos cada capitulo é dividido por um único
salmo e alguns possuem subdivisões como estrofes (Sl 42:5,11; Sl 43:5).
Antes do
NT, o pentateuco divide-se em pequenas seções para serem lidas na sinagoga a
cada sábado (At 13:15, 27). Jesus reconheceu essas divisões da Torah, quando se
referiu ao “trecho referente à sarça” (Lc 20:37; Ex 3:3-6).
Acompanhando
as referências explicitas dos escritores bíblicos e examinando cuidadosamente
os seus escritos poderemos estabelecer os limites literários e lógicos da
passagem em consideração.
Tipos Literários
Ao estudar
qualquer texto é importante identificar que tipo de literatura está sendo
examinada. Isso inclui tanto as categorias mais gerais de poesia e prosa como
também os gêneros mais específicos, tais como documentos legais, cartas, hinos,
etc. Cada forma literária possui sua função no texto e forma de interpretação
distinta. Reconhecer a forma literária usada no texto torna a interpretação
mais apropriada.
a)
Prosa:
Muitos tipos literários em prosa foram explicitamente identificado pelo
autor, outros no entanto foram analisados através de estudos e incluem discurso
e sermões (Js 23; 24; I Sm 12; I Rs 2: 1-9), ordenanças culturais (Lv 1-7),
etc. Especialmente importante as narrativas bíblicas que inclui gêneros como
História (de Josué até II Crônicas; Atos) relatórios ou anais (I Rs11:41;
14:19,20), auto biografia (Esdras e Neemias) relatos de sonhos e visões (Gn
37:5-10; 40:9-19) e auto biografia profética (Is 8:1-3; Jr 36; Dn 1-6).
Estudos recentes têm focado
particularmente a narrativa como um gênero literário que implica elevada
capacidade artística. O estudante da bíblia, que aceita o relato como história
factual, pode se beneficiar examinando cuidadosamente a forma como o autor inspirado
estruturou a narrativa para enfatizar pontos vitais. Os elementos básicos da
narrativa necessários para se compreender o fluxo do relato incluem: o autor
implícito (ou interlocutor invisível) e o leitor implícito, o ponto de vista ou
perspectiva geral, a ordem dos acontecimentos e sua inter-relação
(“temporalização da história”), o enredo, os personagens e suas caracterizações,
o ambiente, e o comentário implícito ou as técnicas retóricas utilizadas no
processo narrativo.
b) Poesia: Algumas versões trazem e
organizam as seções poéticas em estrofes, isso porque ela possui características
especiais que exigem breve atenção.
O principal elemento da poesia é
o paralelismo ou rima conceitual, ele tem sido dividido em três modalidades principais:
Sinonímico: Dois versos
sucessivos repetem um pensamento semelhante (Sl 1:2,5; 103:10);
Antitético: Dois versos sucessivos apresentam ideias contrastantes
(Sl 1:6; 37:21)
Sintético: O segundo verso acrescenta algo ao primeiro (Sl 2:6;
103:11)
Outro elemento é a métrica, este
elemento traz alguns sinais que demonstram lamentos, eles constituem uma
tentativa de imitar a inspiração longa e a expiração curta características dos
suspiros de quem se lamenta. Este elemento é encontrado em salmos de lamento e
no livro de Lamentações.
Além destes elementos, citados a cima,
o autor bíblico utilizou outros elementos, mas não são tão usados como os
anteriores, esses elementos são:
Inclusio ou construção envelope: A mesma expressão no início e no
fim (Sl 8 e 103);
Arostico: Versos ou grupos de versos que começam com letras
sucessivas do alfabeto (Sl 9, 10, 25, 34, 37,109, 145);
Símile: Comparação usando “como” (Os 7:11);
Metáfora: Uma realidade representando outra (Sl 23:1; Os 10:1; Jo
10:7,9,11);
Sinédoque: A parte tomada pelo todo (Is 52:1,2);
Onomatopeia: Palavras que lembram aquilo que designam (Jr 19:1,10;
Is 17:12,13; Sl 93:4);
Assonância: Repetição de palavras (Is 5:7)
Paronomásia: Trocadilhos e jogos de palavras (Am 8:2,3; Mq 1);
Personificação: (Pv8)
Cada elemento possui características
especificas que o interprete deve conhecer para conseguir extrair o verdadeiro
sentido e esclarecer o significado teológico do texto.
Estrutura Literária
A análise rigorosa do material bíblico
revela que os escritores bíblicos com frequência estruturaram cuidadosamente os
versos, Capítulos, livros e até mesmo blocos de livros segundo um modelo artístico-literário.
Muitas vezes, a estrutura literária acompanha os elementos básicos da forma
literária da passagem. É assim, por exemplo, que um litígio pactual profético costuma
conter determinados elementos. A estrutura literária de Mq 6 segue um modelo básico
de litigio.
Dois tipos de estrutura literária
que dependem do paralelismo poético chamam especial atenção. Um dispositivo de
estruturação literária comum é o paralelismo em bloco, que segue o modelo sinonímico
em cada verso da poesia. Encontramos este modelo como estrutura dos livros de Josué
e Jonas: a sequência da primeira metade do livro é repetida na segunda metade. Outro
dispositivo de estruturação literária comum na escritura é o paralelismo inverso,
que segue o modelo do paralelismo antitético na menor unidade de duas linhas
sucessivas da poesia. Um exemplo é o modelo ABCB¹A¹ de quiasma em verso
individual está evidente na “Imagem Invertida” referente às cidades mencionadas
em Amos 5:5:
A.
Não busqueis a Betel;
B.
Nem venhas a Gilgal;
C.
Nem passeis a Berseba;
B¹. porque Gilgal, certamente,
será levada cativa,
A¹. e Betel será desfeita em
nada.
Esse verso tem sido analisado
como parte de uma estrutura quiasmatica maior, que abrange Amós 5:1-17, a qual,
por sua vez é a parte de um quiasma muito maior, ou seja todo livro de Amós.
O uso que um escritor bíblico faz
de um arranjo quiásmatico mostra, com frequência, qual a ênfase do autor
inspirado, visto que, na maioria das vezes, essa ênfase climática é posto no
ponto central, ou coração, do quiasma. Um exemplo é a referência da entrada de
Jesus “além do véu”, em Hebreus 6:17-20, é esclarecida quando comparamos com o
elemento estrutural correspondente da entrada de Jesus pelo “pelo véu”, em Hebreus
10:19 e 20. O que demonstra que o cenário de ambas as passagens é a inauguração
do santuário celestial.
É preciso haver rigoroso controle
dentro do texto para garantir que o estudante da bíblia não imponha
artificialmente um esboço ou estrutura ao material bíblico. Esses comandos
internos incluem temas, conceitos e motivos equivalentes; e, mais importante,
palavras-chave e grupos de palavras equivalentes. Quanto mais explícitos forem
os paralelos verbais e estruturais, mais certos podemos estar de que a
estrutura realmente pertence à passagem.
2 Analise Verso Por Verso
O objetivo principal do estudante
da bíblia é chegar no verdadeiro significado da passagem bíblica. Baseado no princípio
da clareza da escritura, é preciso tomar o texto no seu sentido literal a não
ser que o próprio texto demonstre o contrário. Em apocalipse 1:7 João descreve que Cristo está “vindo com as nuvens”
que indica nuvens literais e não representações figurativas de “distúrbios” ou
qualquer outro significado simbólico.
Ao procurar compreender o sentido
natural de uma passagem bíblica, o interprete deve analisar cuidadosamente cada
verso, dando atenção aos pontos importantes da gramatica e da construção da
frase, bem como o significado das palavras-chaves do contexto.
Gramatica E Sintaxe
Os escritores do NT dão exemplos
de suas preocupações em representar fielmente as construções sintático-gramaticais
do original hebraico e assim apresentar a seus leitores o verdadeiro
significado dos textos do AT. Um exemplo nítido da sensibilidade sintático-gramatical
por parte de um escritor do NT é a citação do salmo 45:6 e 7 em hebreus 1:8 e
9. O apostolo reconhece que o original Hebraico aponta para Aquele que é ao
mesmo tempo Deus, Deduzindo assim a relação existente entre o Pai e o Filho na
Divindade (“O Teu trono, ó Deus [...] Por isso Deus, o Teu Deus, te ungiu”).
O interprete da bíblia conta hoje
com uma serie de ferramentas de estudo que o iniciante nos aspectos básicos do
sistema verbal hebraico e grego e em outros aspectos gramaticais peculiares a
cada língua além de uma chave analítica para todo o AT e NT com informação
gramatical e lexical por palavra e diversas traduções em diferentes línguas.
Estudo de Termos
O interprete
moderno deve se empenhar em estudar cuidadosamente as palavras vitais da
passagem em consideração. O processo de estudos da palavra é mais complexo
hoje, pois o hebraico e o aramaico bíblico e o grego koinê são línguas mortas. O
estudo completo de determinada palavra de uma passagem compreende o exame de
sua terminologia, significado de sua raiz, número e distribuição de ocorrências
através da escritura, sua amplitude semântica, acepções básicas, derivados e
emprego Extra bíblico. A palavra de ser estudada em seu contexto multifacetado:
Ambiente cultural, linguístico, temático e canônico.
Felizmente,
muito desse material de pesquisa já se acha sintetizado em dicionários e
léxicos teológicos que abrangem o vocabulário básico do AT e do NT. Uma concordância
analítica possibilita consultar todas as ocorrências de uma palavra na língua original
e estudar seus variados usos.
Ao mesmo
tempo é extremamente importante lembrar que o determinante final é o contexto
no qual a palavra ou a frase está inserida. Por exemplo, o termo “o anjo do
SENHOR” pode representar um ser angelical criado ou a Cristo (Gn 16:7-13;
22:11-18) outro exemplo é a palavra “elep”
que Êxodo 12:37 pode significar 600 clãs ao invés de 600 mil israelitas, já
em Êxodo 38:25 o seu significado só poderia ser de mil em 603.550 israelitas.
Alguns
estudos sobre palavras bíblicas podem trazer mudanças em relação a doutrinas
exemplo disso é a palavra “para sempre” (heb. ‘olam, Gr. Aionios), que não
significa “sem fim” no contexto do sofrimento dos ímpios no fogo do inferno; “o
arrependimento” (naham, “entristecer-se, mover-se de piedade, compadecer-se”)
da parte de Deus, que é diferente do “Arrependimento” (shub, “dar meia-volta arrepender-se)
do homem. Finalmente, o verbo enkainizo, em hebreus 10:20, que é o termo
técnico usado pela Septuaginta para a “inauguração” do santuário (Nm
7:10,11,84,88), sugere que Cristo, por ocasião de sua ascensão, entrou no santuário
celestial para inaugurar seus serviços, não para dar início ao ministério do Dia
da Expiação.
Conclusão
Com o que
foi apresentado neste estudo, vimos que para alcançar o verdadeiro significado do texto, devemos nos ater nos limites de sua passagem, onde ela inicia e
termina, os tipos literários, como a poesia e a prosa, e a estrutura literária e
para concluirmos virmos a analise Verso por Verso do texto que nos trouxe uma
reflexão sobre a gramatica e a sintaxe e o estudo de termos do texto bíblico.
Referencia
Tratado de teologia Adventista
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