A palavra cânon deriva do grego Kanon (“cana,
régua”), que, por sua vez, se origina do hebraico kaneh, palavra do Antigo Testamento que significa “vara ou cana de
medir” (Ez 40:3). O novo testamento emprega o termo em sentido figurado,
referindo-se a um padrão ou regra de conduta (Gl 6:16).
Emprego da palavra “cânon” pelos cristãos da igreja primitiva
Nos
primórdios do cristianismo, a palavra cânon
significava “regra” de fé, ou escritos normativos (as Escrituras
autorizadas). Por volta de 350 d.C., o conceito de cânon bíblico ou de
Escrituras normativas já estava em desenvolvimento. A palavra cânon aplicava-se à Bíblia tanto no
sentido ativo (a bíblia é a regra pelo qual tudo o mais deve ser julgado) como
no sentido passivo (a Bíblia é a regra pelo qual todos os escritos devem ser
julgados como inspirados).
Sinônimos de canonicidade
A
existência de um cânon ou coleção de escritos autorizados antecede o uso do
termo Cânon. A comunidade judaica coligiu e preservou as escrituras sagradas
desde o tempo de Moises. Vamos conferir agora alguns dos seus sinônimos.
Escrituras sagradas: Um
dos conceitos mais antigos de cânon foi o de escritos sagrados. O fato dos
escritos de Moises serem considerados sagrados demonstra-se pelo lugar santo em
que foram guardados, ao lado da arca da aliança (Dt 31:24-26). A consideração
especial dada a esses livros especiais mostra que eram tidos como canônicos, ou
sagrados.
Livros autorizados: A
canonicidade das Escrituras é designada pela autoridade divina. Visto que esses
livros vieram da parte de Deus, vieram revestidos de sua autoridade. Sendo
escritos dotados de autoridade, eram canônicos, normativos, para o crente
israelita.
Livros que conspurcam
as mãos: Para a tradição Judaica, os livros do Antigo Testamento hebraico,
na verdade, tornavam imundas as mãos, porque são santos. Por isso o leitor
teria que passar por um ritual de purificação.
Livros Proféticos:
Um livro só era considerado inspirado se escrito por um profeta, ou porta-voz
de Deus. De fato, segundo Flavio Josefo (contra Ápion,I,8), só os livros que
haviam sido redigidos durante o período profético, de Moises até o rei
Artaxerxes, poderiam ser considerados canônicos. Foram considerados canônicos
os livros de Moises a Malaquias, pois só esses foram escritos por homens em
sucessão profética, depois disso não houveram livros inspirados.
A canonicidade é determinada pela inspiração
Os livros da Bíblia não são
considerados oriundos de Deus por se haver descoberto neles algum valor; são
valiosos porque provieram de Deus – fonte de todo bem. O processo mediante o
qual Deus nos concede sua revelação chama-se inspiração. É a inspiração de Deus
num livro que determina sua canonicidade.
A descoberta da canonicidade
O povo de
Deus tem desempenhado um papel de cabal importância no processo de canonização,
ao longo dos séculos, ainda que tal papel não tenha natureza determinadora. A
comunidade de crentes arca com a tarefa de chegar a uma conclusão sobre quais
livros são realmente de Deus. A fim de cumprir esse papel, a igreja deve
procurar certas características próprias da autoridade divina.
Os princípios de descoberta da canonicidade
Nunca
deixaram de existir falsos livros e mensagens. Por representarem ameaça
constante, fez-se necessário que o povo de Deus revesse cuidadosamente sua
coleção de livros sagrados. São discerníveis cinco critérios básicos, presentes
no processo como um todo:
1)
A
autoridade de um livro: Cada livro da Bíblia era traz uma reivindicação de
autoridade divina. Com frequência a expressão categórica “assim diz o Senhor”
está presente. As vezes o tom e as exortações revelam sua origem divina. Se
faltasse a um livro a autoridade de Deus, esse era considerado não canônico,
não sendo incluído no cânon sagrado.
2)
A autoria
profética de um livro: Os livros proféticos só foram produzidos pela
atuação do espirito, que moveu alguns homens conhecidos como profetas (II Pe
1:20,21). Todos os autores eram profetas ou exerciam a função de profetas ainda
que não fossem profetas por ocupação.
Paulo exorta o povo de Deus em Gálatas, dizendo que suas
cartas deveriam ser aceitas porque ele era aposto de Cristo, ou seja, a
mensagem não vinha dele, mas de cristo. (Gl 1:1). Todos os livros deveriam ser
rejeitados caso não proviessem de profetas nomeados por Deus; essa era a
advertência de Paulo (II Ts 2:2). Foi por esse motivo que a segunda carta de
Pedro quase não entrava no cânon. Enquanto os pais da igreja não ficaram
convencidos que esta carta não tinha sido forjada, mas vieram do próprio aposto
ela não entrou no cânon.
3)
A
confiabilidade de um livro: Outro sinal característico da inspiração é de
que o livro deve ser digno de confiança. Todo e qualquer livro que contenha
erros factuais ou doutrinários não pode ter sido inspirado por Deus. Deus não
pode mentir; as palavras do Senhor só podem ser verdadeiras e coerentes. Com
isso se um livro contrariar uma inspiração anterior seria considerado como não
inspirado.
Alguns livros canônicos foram questionados com base nesse
mesmo princípio. Poderia a carta de Tiago ser inspirada, se contradissesse o
ensino de Paulo a respeito da justificação pela fé e nunca pelas obras? Até que
fosse comprovada que não existe contradição, mas complementação entre os
textos, a inspiração deste livro foi questionada.
4)
A natureza
dinâmica do livro: O quarto teste de canonicidade, às vezes menos explícito
do que alguns dos demais, era a capacidade do texto de transformar vidas: “...
a palavra é viva e eficaz” (Hb 4:12). O resultado é que ela pode ser usada “
para ensinar, para repreender, para
corrigir, para instruir na justiça” (II Tm 3:16,17). Alguns livros que foram
rejeitados, apresentavam falsas esperanças ou faziam rugir alarmes falsos.
Assim, não produziam no crente o crescimento na verdade de Jesus Cristo.
Alguns livros da Bíblia, como Cântico dos cânticos e
Eclesiastes, foram questionados, pois alguns estudiosos julgaram isentos desse
poder dinâmico, capaz de edificar o crente. Desde de que reconheceram que o livro
de Cântico dos cânticos não era sensual, mas profundamente espiritual e
Eclesiastes não é um livro cético e pessimista, mas positivo e edificante,
pouca dúvida restou acerca de sua canonicidade.
5)
A aceitação de um livro: A marca final
de um documento escrito autorizado é seu reconhecimento pelo povo de Deus ao
qual originalmente se havia destinado. A palavra de Deus dada mediante seus
profetas e contendo sua verdade, deve ser reconhecida pelo seu povo. Caso algum
livro fosse recebido, colecionados e usado como obra de Deus, pelas pessoas a
quem originalmente se havia destinado, ficava comprovada a sua canonicidade.
Só livros de Moises foram aceitos imediatamente pelo povo de
Deus. Foram colecionados, citados, preservados e até mesmo impostos sobre as
novas gerações. Esse princípio de aceitação levou a alguns a questionar durante
algum tempo certos livros da Bíblia, como II e III João. São de natureza
particular e de circulação restrita; é compreensível, pois, que houvesse alguma
relutância em aceita-los, até que essas pessoas em dúvida tivessem absoluta
certeza de que tais livros haviam sido recebidos pelo povo de Deus do Século I
como cartas do apostolo João.
O papel do povo de Deus era decisivo no reconhecimento da
palavra de Deus. O próprio Deus havia determinado a autoridade que envolvia os
livros do cânon que ele inspirara, mas o povo de Deus também havia sido chamado
para essa tarefa: descobrir quais eram os livros dotados de autoridade, e quais
eram falsos.
Procedimento para a descoberta da canonicidade
Alguns princípios estão apenas implícitos no
processo: Às vezes acontecia que o poder e autoridade de um livro eram mais
visíveis do que sua autoria (Hebreus). De qualquer maneira, todas as cincos características
estavam presentes na descoberta e na determinação de cada livro canônico, ainda
que alguns desses princípios só fossem aplicados de modo implícito.
Alguns
princípios atuavam de modo negativo no processo. O princípio da
confiabilidade eliminava mais depressa os livros não canônicos, não sendo a
mesma rapidez para indicar os canônicos. Não existem ensinos falsos que, apesar
disso, sejam canônicos; no entanto, há muitos apócrifos que expõem a verdade
sem jamais terem sido inspirados. De modo semelhante, muitos livros edificam ou
apresentam dinâmica espiritual positiva não são canônicos, embora nenhum livro canônico
deixe de ter importância no plano salvifico de Deus.
O princípio realmente essencial substitui
todos os demais princípios. Se um livro houver sido escrito por um profeta
prestigiado e honrado de Deus, e se ele afirmar que apresentará uma enunciação
autorizada da parte de Deus, nem há necessidade de formular as demais
perguntas, pois nenhum livro concedido por Deus pode ser falso.
Conclusão
Neste estudo vimos a definição de
cânon, e os princípios que ajudaram
os Judeus e os Cristãos a encontrar os livros inspirados. Desta forma
percebemos que cânon bíblico não foi mera obra do acaso, mais Deus guiou o seu
povo na descoberta dos livros por Ele inspirado. Cabe agora nós hoje nos
aprofundar nos estudos dos livros que Deus nos mostrou para assim conhecermos
um pouco do santo caráter Divino.
Referencias
Norman Geisler e
William Nix, Introdução Bíblica: como a bíblia chegou até nós, 1ª edição,
Editora Vida, são Paulo, 2006.
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